Entre e fique à vontade...


"A poesia não se entrega a quem a define"


Mário Quintana



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

É TUDO ASSIM

É tudo suspeito
Suspenso como nuvem
No limiar de um susto
Distante da atmosfera
Flashes de respiração
É tudo rarefeito
Ar puro e pensamentos
E meu autocontrole
Sem o leme do vento
Em constante imersão
É tudo imperfeito
Sinopse de vida afora
Filme visto de cima
Sem roteiro de estreia
Guiada pela indecisão
É tudo malfeito
Sonhos definhando
Pernas desobedecendo
Sentidos asfixiando
Efeito anti-gravitação
É tudo sem jeito
Diálogo solto no tempo
Braços estendidos
Voo baixo no escuro
Na sua direção


DANIELA BARBOSA - 16/09 às 16:27

terça-feira, 18 de outubro de 2011

NUVEM


Aquela nuvem vem não sei de onde
Instala-se tão confortavelmente
Expulsando meus pensamentos...
Não compreendo aquela nuvem
Que flutua dançando em círculos
E, por vezes, ameaça cair
Deixando-me tão atordoada.
Tem um cinza que me entristece
E uma vontade de se derramar 
Que sou capaz de me confundir
E pensar que sou nuvem no ar
Em vez de gente desnorteada
Aquela nuvem nasce em mim
Cresce nas minhas incertezas
Alimenta-se de minhas lágrimas
Trilha seu destino em minhas veias
Ninguém a conhece, somente eu
É alma gêmea de minhas tristezas
Minha atormentada razão de ser

DANIELA BARBOSA - 18/10/11

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ALGUMAS COISAS



Um olhar certeiro
Um gole ardente
Um som conhecido
Uma flor vermelha
Uma brisa mansa
Um cheiro doce
Um sorriso tímido
Uma pele rubra
Uma mão úmida
Um vinho seco
Uma música forte
Um olhar ingênuo
Uma cama desfeita
Um colo meu
Uma fantasia sua
Uma noite nossa
Um caso de amor

DANIELA BARBOSA

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

QUASE



No apartamento vazio,

o cheiro da brisa morna
ainda bate à porta.
Sutil convite ao delírio,
lembranças intensas
de um belo encantamento.
De tão presente aqui,
eu quase que te respiro,
de tão dentro de mim.
Você inteiro e cada pedaço
é quase o que me alimenta,
o que posso absorver.
Um pulsar ofegante
consome todo meu corpo, 
febril com a falta do seu.
Mas, você quase me tem,
mesmo que tão distante
e quase que completamente.
E quase me assusta
esse olhar que me procura
querendo se perder.


DANIELA BARBOSA

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

MILITÂNCIA



Vou continuar na minha militância...
Cronometrando meu tempo,
Rabiscando meu caderno,
Profetizando um novo encontro,
Direcionando meus sonhos,
Digerindo essa estranha ausência,
Camuflando com um sorriso besta
A dor na alma e no estômago.

Vou continuar na minha militância...
Me alimentando das suas palavras,
Rastreando o tom da sua voz,
Escaneando lugares comuns,
Mergulhando em olhares perdidos,
Degustando intenções declaradas,
Saboreando toques dissimulados,
Na memória do meu desejo.

Vou continuar na minha militância...
Quem sabe num dia de sol,
Cabeça baixa, uma dose de sorte
E um empurrão descuidado do destino
Entre algumas desculpas e um olhar,
Catando minha bolsa e meu ar,
Meus olhos convençam suas mãos,
A arrumar os papeis e desarrumar a cama.


DANIELA BARBOSA




terça-feira, 24 de maio de 2011


O CORTE
Mais uma noite oportuna. Eu, o outono e a janela.
O ébano protege meu tétrico ritual das lentes vigilantes da lua cheia.
Da taça, ouço ruídos estridentes, estalando no mármore gélido que atravessa a sala.
Quase me rendo ao desejo de acompanhar a trajetória perfeita dos cacos de cristais reluzentes
contorcendo-se para tingir o chão alvo e escorregadio com as gotas que brotam da carne aberta.


A DOR
O cenário é confuso e meu cérebro, vazio.
O frio cada vez mais próximo, a solidão, cada vez mais atraente.
Atrevo-me a descrever o círculo de fogo que consome cada molécula de sangue evaporando-se no vazio de minhas veias ardentes e ressequidas.
Conseguiria reagir, não fosse o peso da culpa penetrando os sulcos profundos de minha alma atormentada com espasmos de dor sufocando-me a razão.


O TEMPO
O relógio é inimigo das mentes suicidas.
Um sorriso arrogante em forma de lua preenche a janela com uma luz incômoda.
Revela os segredos de um corpo minguando a cada carícia profunda que saboreio no que resta da champanhe avermelhada dilacerando minha garganta.
Retribuo com uma espécie de convulsão; o máximo que meus músculos faciais se arriscam a ensaiar num breve instante de serenidade.
Um minuto interminável traduz a eterna ânsia de arrancar de minhas vísceras as cinzas de uma subexistência mórbida, inútil e translúcida como minha imagem cravada no espelho.


O FIM
Restos desumanos.
Assombro diante da inexorável razão da desintegração humana.
O fim de tudo parecia-me dramático, mas minha condição de morta impediu-me de chorar.
Minha garganta ainda dói. Meus músculos ainda respiram. Minha sanidade parece recuperar-se... redenção.
É tudo meio cinza e vermelho nos meus lampejos de visão... ou de ilusão. Não existe túnel, luz, anjos ou demônios. Somente o fim na escuridão total ou ausência de tudo.
Algo tão insólito como a morte deveria ser melhor comemorado, mas reservo um banquete aos vermes, famintos e felizes pelo cumprimento da minha missão.
Nunca foi tão fácil...

quinta-feira, 31 de março de 2011

O SONHO DA BAILARINA



Preciso de um palhaço
Que me faça ver a vida colorida
Que jogue o picadeiro aos meus pés
Que me faça estremecer com um breve sorriso
E nada mais terá valor ou nada me tocará mais a alma
Que os dedos alvos e divertidos do meu carinhoso palhaço
E nunca mais serei triste se ao menos ele me fitar com olhos ávidos
Se ao menos me enfeitiçar com o balé de suas encantadoras trapalhadas


Preciso de um mágico de sorrisos
Que me afogue em gostosas gargalhadas
Que me encha de prazer representando seu papel
Que percorra meu corpo com seu olhar ingênuo e doce
E lhe darei mais que a vida enquanto me tiver em seus braços
Quando, desengonçado, tropeçar e cair ajoelhado à minha frente
Dançarei com ele até minhas pernas se moldarem à forma do seu corpo
Se me hipnotizar com seus olhos úmidos, tirar sua máscara e me levar ao céu


DANIELA BARBOSA - 31/03/11

INACABADO


Nós dois, um café, nada mais
De tudo que poderia ser, caprichos de desencontros
Uma mesa e alguns papéis, pincéis e algum movimento
Um lençol para cobrir pudores, rimas, limpar a tinta e sufocar a vontade
Do toque que poderia ter ficado e se perdeu no vento
Das páginas nuas e inertes, apenas um abraço a preenchê-las
Nervosamente vazias de prosa, verso e sorriso
Inebriante e preciso, de copo a corpo
Deliciosa imperfeição, vício de bocas ansiosas
Bebendo poesia na fonte
Desejos esboçados a quatro mãos hesitantes
Rascunhos de um pseudoprazer quase sagrado
Quase profano 
Conversas inacabadas entre olhares famintos
Saboreados em doses quentes
De um amargante café 

quinta-feira, 3 de março de 2011

ENFIM, SÓS

Preciso administrar minha última dose de sofrimento
Acho que já cansei de lidar com períodos de abstinência
Tenho febre, preciso me curar
Já acinzentei a paisagem bucólica que enche de vida meu jardim
De cores, só minhas roupas se retorcendo sobre as folhas mortas
Sem corpo, sem vida, esperando a próxima crise
A cena ideal para o epitáfio perfeito:
AUSÊNCIA DE VIDA POR EXCESSO DE AMOR...
Depois de rastejar implorando pelo último gole de veneno
Descanso em meu leito de rosas secas cobertas de espinhos
A dose letal começa a transbordar dos poros em busca da escuridão
E um riso póstumo brinca de se esconder nas rugas tristes
De onde se esvai o derradeiro brilho do meu olhar
Dessa vez foi suficiente
O frio começa a subir pelas veias, cobrindo de paz minha alma
Ouço o sussurro da morte entrando pela fresta de minha consciência
Preciso adormecer e deixá-la me possuir
Já não sinto meus dedos e meus pensamentos
Uma dormência mórbida percorre minha corrente sanguínea
Desligando meus últimos lampejos de ar
Um sobressalto, um grito e o nada
Enfim, sós

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

MEU MUNDO


Quando passar por mim não esqueça de catar os cacos
Eles se espalham pelo caminho que se formou
Quando você disse que estava indo embora
E sequer se lembrou de me devolver as noites em claro
Que se esgueiravam entre um e outro olhar
Queimando meu estômago enquanto você sorria

Quando estiver indo olhe somente uma vez para trás
E torture cada pedaço de esperança que ainda me habita
Derrame o charme que irradia dos cantos de sua boca morna
Crave para sempre na minha memória o mel dos seus olhos
Que ainda sinto no céu de outono doce de suas pálpebras
Negligentes como a arritmia desvairada do meu coração

Quando se despedir prove que é para sempre
Que o calor não volta jamais e o rubor vai se desbotar
Metralhe meus ouvidos com palavras falsas
Deixe-me sufocar com os estilhaços de desencontros
Que vagueiam entre seu respeito e minha covardia
E se esvaem na ausência de nossas mãos

Não se esqueça de dedilhar seu desejo em minhas curvas
Pela última vez que minha pele morrer pela sua
Trate de escrever seu toque em todas as minhas linhas
De redesenhar todo meu ar em cores e sonhos
Para que ele não desapareça quando a noite chegar
E seu sorriso seja meu mundo quando eu não mais respirar

DANIELA BARBOSA - 01/02/11

sábado, 15 de janeiro de 2011

VERDADES...


Porque quando a gente menos espera a vida dá uma rasteira e nos vira pelo avesso
Porque um dia alguém vai experimentar algo totalmente oposto a tudo que sempre defendeu
Porque nada é definitivo ou ruim de todo, e nem tudo é imoral, é ilegal ou engorda
Porque às vezes o balanço que sobe num impulso e dá um frio na barriga, não volta
Porque o ar sempre pode ficar mais poluído, a alma mais negra e o coração mais apertado
Porque um dia, ao abrir os olhos, descobre-se que o mundo é outro e a vida já se foi
Porque não há nada mais certo do que o tempo andar pra frente e nunca poder voltar
Porque marcas, na maioria das vezes, precisam causar dor para aparecer
Porque um dia a vida pode ser uma dádiva, mas no outro, tornar-se indesejável
Porque é tão tênue a existência que supera qualquer esforço para reagirmos à queda
Porque ainda vamos perceber como faz falta alguém que ajudamos a construir
Porque há mais lágrimas a correr pelo meu rosto do que possa julgar minha alma ressecada
Porque a dor da saudade não corta, esquarteja e não permite se juntar os cacos
Porque café cura dor no estômago, no coração e na alma
Porque o homem fica em pé, mas a dor do espírito lhe quebra as pernas e as esperanças
Porque o álcool pode curar, confortar, abraçar, alegrar
Porque música é um poderoso antídoto contra o veneno da solidão e da tristeza...

DANIELA BARBOSA - 14 de janeiro de 2011