Entre e fique à vontade...


"A poesia não se entrega a quem a define"


Mário Quintana



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

INFINITAMENTE PERFEITA EM SUAS IMPERFEIÇÕES...

Talvez eu nunca vá estar preparada para o infinito. Deve ser porque a vida tem um fim. Um fim visível, palpável. Depois dele, só o infinito. 


Infinito é como fechar os olhos e viver todos aqueles momentos, é sentir o cheiro, despertar sensações já adormecidas. 


É brincar de pique-esconde com o tempo e nunca deixar ele me encontrar. 


E vou tentando driblar o desejo de ter para sempre seu colo... e vou relembrando momentos que fizeram de mim quem eu sou... e vou aprendendo todos os dias com sua sabedoria... infinitamente perfeita em suas imperfeições.


INFINITO


É bom sentir o balanço das vozes que aninharam outrora meu sonhar
Aspirar as palavras macias contornadas por linhas de carinho intenso
Deitar-me sobre a brisa serena dos teus cabelos vividos
Imergir nos afagos perdidos entre estórias e canções de ninar
É bom soluçar versinhos que escorrem entre teus dedos seguros de mar
Chorar os dias cinza-molhados que aprisionam travessas manhãs à janela
Ensaiar beicinhos zangados embalados ao colo do teu sorriso mole
Saborear os aromas saudosos que deslizam pelo brilho castanho do teu olhar
É bom temperar com amor o doce que se espalha no teu abraço preguiçoso
Colecionar as gotas de música que fogem dos teus lábios de outono
Espremer as gargalhadas quentes que brotam das curvas de tua existência
É bom dedilhar um caminho arco-íris ao som de orvalho do teu entardecer
Perder-me no acordar das flores eternas que caçoam do anoitecer
Zombar do tempo vazio, brincando de infinito nos braços de tua essência


DANIELA BARBOSA – 20 de setembro de 2009

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

UM BRINDE


Servindo-me com desejo de provar o decote
Faz-me saborear o néctar e mergulhar 
Com sede de irresistível sorriso
Teu olhar lancinante sobre o martini
- Sem gelo, por favor... quero derreter ao teu toque
- Cereja? 
- Mais tarde... quando fores me amar
Sorriso rubro sobre a gravata borboleta
Olhos hesitantes
E minha boca passeia, obediente
Pelos caminhos incertos da tua nuca
Sussurrando
- À sua saúde! 
- Não bebo em serviço...
- Esvaziemos as taças!
Delírios etílicos em doses febris
Chuva de estilhaços no balcão
Plateia em êxtase  
Mechas em desalinho presas em tuas mãos
Hora de fechar os olhos e as portas
- À nossa saúde...
- Garçon...
Um brinde!


DANIELA BARBOSA

terça-feira, 26 de outubro de 2010

MANIAS

Ah... se eu tenho uma mania é de escrever! Também gosto muito de café e pão francês, mas escrever me dá mais prazer, além de não me engordar - preocupação de oito entre nove mulheres, mas eu sou exceção, claro (acho que não convenci...)!

Hoje acordei cansada, mas uma coisa me impediu de continuar na cama. Agora estou tentando desesperadamente voltar a ser Amélia... o problema é que prefiro ser Daniela.
Explicando: não tenho mania de fazer "serviços domésticos".

Mas mania é uma coisa que prende, vicia e acomoda. Cada um tem a sua. Prefiro ficar em paz com minhas manias inofensivas, a ser infeliz por não poder assumi-las.

Assim como eu, minha filha tem mania de inventar, desde pequena. Então ela inventou um partido, para um trabalho na escola. Na minha opinião, é a melhor sigla já inventada e bem que poderia ser de verdade, pois a filosofia do partido é perfeita!

Então, peguei uma outra mania que tenho desde que fui mãe pela primeira vez: corujar minha cria! E como mania não se perde de uma hora para outra...


POLÍTICA PQP

Pode quem pensar
Prever que pode
Perceber quanto paradoxo
Persiste quando palpitam
Palavras que parecem
Produzir questões perigosas...
Porém, querem promover
Parcerias que planejam
Pensamentos que perduram
Para quem partilha
Principais questões políticas,
Podendo quase poetar
Propaganda que promova
PQP
Pensou que pudesse
Proferir qualquer palavrão?
Pensamento quase pecador...
Pois que pasmem!
Palavras, quiçá, perfeitas:
PARTIDO QUE PENSA!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

TARDES DE CAFÉS E POESIA




O ônibus hoje não está parecendo uma lata de sardinha...
O capuccino veio quente e saboroso
A brisa leve que invadiu o Centro de Cabo Frio
Quase podia ser tocada... se não fosse tão arredia
Uma boa companhia, um quase fim de tarde
Querendo não terminar

A Praça nos observando ao longe
Incita a poesia, perseguindo o ritmo das ruas
Cada rosto parece imergir no turbilhão de cores e sons
Enquanto  os poetas contemplam o desacelerar do dia
Entre papéis, poemas e o pôr do sol
O tempo insiste em passar

Um balé de apressados ruídos repete-se ao final
É hora de ir... despedidas sempre me incomodam
Momentos agradáveis deveriam eternizar-se no tempo e no espaço
Guardo na bolsa os registros de um oásis
No inverno deserto e solitário dos meus passos
Rumo ao mundo real

DANIELA BARBOSA

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

CONDIÇÕES...


A toda saudade serei grata
se teus olhos disserem
aos meus lábios
que os querem
beijar.

A todo prazer serei plena
se tuas mãos romperem
caminhos devassos
em pernas prontas
a te enlaçar.

A todo abraço serei devota
se me cobrir os seios
de carinhos fartos
em dedos de rios
a me banhar.

DANIELA BARBOSA

HOMEM DA TERRA

Criado nas entranhas ressequidas, troféu erguido ao sol.
Mansa criatura estranha com olhos bêbados de mar,
Oásis de lágrimas quentes, suplicando nuvens tristonhas.
Fome infame de dilacerar os rastros de vida sofrida.
Distorcidos ais ecoando dos acordes de mãos estendidas
Ofertas de almas em buquê de espinhos e promessas.
Ínfimos favores roubados em mente, corpo e vaidade
Dilacerando pálidas esperanças amordaçadas
Enquanto bocas impuras cultuam silêncios dignos de ti...
Filho da terra órfã, herdeiro do abismo de uma desumanidade.

DANIELA BARBOSA – 10/08/10