Entre e fique à vontade...


"A poesia não se entrega a quem a define"


Mário Quintana



quinta-feira, 13 de junho de 2013

LINHA DE FOGO


Banquete montado
ninguém é notado
além da fome que se mostra
inconveniente
Nas caras limpas, nas unhas sujas
nos sorrisos podres
moldados pelo abandono
filhos da morte que produz zumbis
órfãos da vida que aborta sonhos
Joga na rua! Vai se virar!
Marquise acolhedora na solidão
do medo do escuro
do frio que corta o coração
e a carne
Pirâmide de olhos vidrados
das drogas da noite
nos fantasmas vivos
com fuzis fardados
Ansiedade nas bocas desidratadas
cheirando a noite
na esperança de ver o dia
Brancos, pretos, amarelados
da urina que esquenta
na calçada cinzenta
Furos nas paredes, nas roupas, no peito
Farelos de respeito jogados como migalhas
disputados a soco
devorados na lata
O que não engorda, mata
Detrás das trincheiras de corpos e cobertas
Tiro ao alvo pra treinar
Quem escapa, come os restos 
da morte precoce
E vela o corpo
e ri da sorte
É na rua que o homem cresce

DANIELA LOPES - 13/06/13


sexta-feira, 7 de junho de 2013

ESTIO


São tantos vícios e virtudes
em fartas pernas
cansadas da luta, da labuta.
Em palcos na rua e cenas externas
Plateia de colarinhos alvejados 
tingidos de rubro
do batom das putas.
Um beijo barato é o que nos paga
Um tapa sincero é o que nos afaga
nos rouba, nos mata
Estigmata
nos pulsos, nos pés
na cabeça.
A boca aberta deseja
No abate, o sangue lateja
dos poros, do ventre da presa
na ganância de amar.
De exorcizar a escória dos becos
onde um amor sujo se oferece 
de graça.
Subterfúgios da língua que roça
e não pode falar
não pode comer
mas estilhaça.

DANIELA LOPES - 07/06/13

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

DOR POR DENTRO

Aumento dos batimentos
Arrebatamento
Tudo em volta sugere
Solidão
E o desejo permanece
Sedento
Suspiros de afobação
Desassossego
Desapego de paixão
Por fora, ilusão
Encantamento
Dor por dentro

DANIELA BARBOSA

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

É TUDO ASSIM

É tudo suspeito
Suspenso como nuvem
No limiar de um susto
Distante da atmosfera
Flashes de respiração
É tudo rarefeito
Ar puro e pensamentos
E meu autocontrole
Sem o leme do vento
Em constante imersão
É tudo imperfeito
Sinopse de vida afora
Filme visto de cima
Sem roteiro de estreia
Guiada pela indecisão
É tudo malfeito
Sonhos definhando
Pernas desobedecendo
Sentidos asfixiando
Efeito anti-gravitação
É tudo sem jeito
Diálogo solto no tempo
Braços estendidos
Voo baixo no escuro
Na sua direção


DANIELA BARBOSA - 16/09 às 16:27

terça-feira, 18 de outubro de 2011

NUVEM


Aquela nuvem vem não sei de onde
Instala-se tão confortavelmente
Expulsando meus pensamentos...
Não compreendo aquela nuvem
Que flutua dançando em círculos
E, por vezes, ameaça cair
Deixando-me tão atordoada.
Tem um cinza que me entristece
E uma vontade de se derramar 
Que sou capaz de me confundir
E pensar que sou nuvem no ar
Em vez de gente desnorteada
Aquela nuvem nasce em mim
Cresce nas minhas incertezas
Alimenta-se de minhas lágrimas
Trilha seu destino em minhas veias
Ninguém a conhece, somente eu
É alma gêmea de minhas tristezas
Minha atormentada razão de ser

DANIELA BARBOSA - 18/10/11

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ALGUMAS COISAS



Um olhar certeiro
Um gole ardente
Um som conhecido
Uma flor vermelha
Uma brisa mansa
Um cheiro doce
Um sorriso tímido
Uma pele rubra
Uma mão úmida
Um vinho seco
Uma música forte
Um olhar ingênuo
Uma cama desfeita
Um colo meu
Uma fantasia sua
Uma noite nossa
Um caso de amor

DANIELA BARBOSA

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

QUASE



No apartamento vazio,

o cheiro da brisa morna
ainda bate à porta.
Sutil convite ao delírio,
lembranças intensas
de um belo encantamento.
De tão presente aqui,
eu quase que te respiro,
de tão dentro de mim.
Você inteiro e cada pedaço
é quase o que me alimenta,
o que posso absorver.
Um pulsar ofegante
consome todo meu corpo, 
febril com a falta do seu.
Mas, você quase me tem,
mesmo que tão distante
e quase que completamente.
E quase me assusta
esse olhar que me procura
querendo se perder.


DANIELA BARBOSA